“Sabendo que a prova da vossa fé opera a
paciência.”
Tiago 1:3
Depois de mais dois meses do início da
avaliação neuropsicológica do Garotão, estou de volta para relatar como foram as sessões de avaliação e o
resultado.
Por que demorei tanto? Não foi muito fácil acompanhar esse processo. Até que nossa cabeça e o nosso coração assimilasse tudo, levou um bocado de tempo.
Por que demorei tanto? Não foi muito fácil acompanhar esse processo. Até que nossa cabeça e o nosso coração assimilasse tudo, levou um bocado de tempo.
Fomos todos bem animados para a primeira
sessão (09/07/2015). O previsto é que tivéssemos cinco sessões: uma de
entrevista, três com o Garotão e uma
devolutiva. A entrevista foi tranquila: relato do desenvolvimento, apresentação
dos relatórios e uma ligeira explicação de como os testes se seguiriam.
Então, na semana seguinte, começou a
avaliação propriamente dita: foi solicitado que o Garotão fosse sozinho para a
sessão, mas logo de início, o Garotão quis brincar e não atendia aos comandos
da neuropsicóloga. Então fui chamada para auxiliar nesse foco. Foi então que a
comecei a perceber que tudo seria muito diferente do esperado.
O Garotão apresentava uma grande
dificuldade de entender o que era pedido. Eu tentava traduzir o que a
neuropsicóloga pedia, mas era como se ele não alcançasse o entendimento do que
era pedido. A primeira parte era pra identificar o que era diferente numa lista
de desenhos, ou o que não fazia parte do conjunto. Além de não entender o que era
pedido, ele ainda não identificava corretamente as figuras. Do tipo, ver uma
figura de um alfinete, e dizer que era um microfone, por exemplo.
Depois, ela começou a pedir que o Garotão
definisse algumas palavras. Algumas, ele respondeu legal, outras, ele
simplesmente não sabia. Isso me deixou muito frustrada. Inclusive, a
neuropsicóloga chegou a dizer que um dos testes programados, o Wisc, não
poderiam ser aplicados porque o nível da fala dele era muito abaixo do esperado
e que poderia trazer o QI dele muito “pra baixo”, caso fosse feito esse teste.
Disse para voltarmos na semana seguinte para prosseguirmos com os testes e eu
voltei pra casa muito, mas muito triste, com medo que o Garotão apresentasse um
resultado com Deficiência Intelectual (DI) simplesmente por causa da fala.
A segunda sessão foi com mais atividades de
execução. Achei que o Garotão foi bem, foi gostoso assisti-lo fazendo as
combinações. Mas, ao final da sessão, a neuropsicóloga abriu mão da última
sessão porque ele não conseguiria fazer os outros testes.
Aguardamos ansiosamente então a sessão
devolutiva. A neuropsicóloga apresentou os resultados de uma forma muito
pessimista. Disse que, apesar do QI de execução ser muito elevado, a
comunicação dele estava tão comprometida que a diferença entre o QI de execução
e o QI verbal era preocupante. O QI total do Garotão ficou na média inferior,
mas dentro da média. Era pra estarmos felizes, porque com o QI dentro da média,
o caso dele seria fechado como “Autismo de Alto Funcionamento”, mas a
devolutiva foi dada de tal forma que saímos dela bem deprimidos. Passei muito tempo bem deprimida, como se
aquele resultado fosse uma sentença de péssimo futuro.
Conversei com mães que já passaram por isso
e elas ressaltaram o quanto esses testes eram cruéis com crianças autistas. Que
muitas crianças com o cognitivo preservado foram classificadas com DI
justamente por causa da dificuldade de comunicação. Além disso, percebi que o
desejo em comum com a maioria era a necessidade de um teste em que a questão da
fala não fosse tão pesada.
Assim que foi possível, marcamos a consulta
com a neuropediatra do Garotão. Ela ficou muito animada com os resultados. Fez
uma grande festa com os valores do QI de execução e o quanto ele é acima da
média. Questionei essa animação e ela respondeu que essa grande diferença entre
o QI verbal e o QI de execução é algo que caracteriza o autismo. Afinal, o
autismo é um transtorno marcado pela dificuldade de comunicação, certo? Ela
comentou inclusive, da necessidade de testes específicos voltados para esse
transtorno específico, além da necessidade de uma melhor comunicação dos
resultados. Com os resultados, focamos nas dificuldades do Garotão: melhoria da
comunicação, aumento de vocabulário, entendimento de novas expressões, além de
continuação das terapias que ele já faz.
Agora que está tudo assimilado, estou de
volta e apresento a nossa conclusão e o nosso fechamento do caso:
Garotão tem autismo de alto funcionamento e um grande futuro pela frente!
Garotão tem autismo de alto funcionamento e um grande futuro pela frente!
E, fica a dica:
- Profissionais de saúde: a compreensão de
cada criança num todo é muito mais importante do que um teste em si. Sabemos
que eles são importantes para definir um CID, que garantem um tratamento seja
pelo SUS, por um plano de saúde, por uma ong e ainda, a garantia de educação
inclusiva. Mas, ao comunicar os resultados a uma família, deixe claro isso para
ela. Nem todos tem um aparato psicológico para suportar certas bombas, e o
pior, bombas mal lançadas, que podem desestruturar uma família de forma intensa
e marcante.
- Pais, mães e familiares: a Avaliação
Neuropsicológica, teste de QI dão o resultado fotográfico da situação da criança.
Não dizem absolutamente nada quando feitos uma única vez. E, serei ainda mais
incisiva: são ministrados de uma forma cruel. A criança não é ambientada, não
conhece o avaliador, o que piora e muito o resultado. A sua visão, a visão dos
terapeutas que o acompanham é muito mais real do que esses testes apresentam.
Não deixem que esses resultados definam a vida da sua criança e nem criem
rótulos. Explorem ao máximo o que o CID proporciona: terapias, inclusão, mas nunca
deixe que esse número impeça seu filho de crescer.
Segue abaixo o quadro do resultado da avaliação do Garotão:
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Que Papai do Céu te abençoe!!!